Com a crise política do governo Dilma dominando os noticiários de norte a sul do Brasil, como será que as assessorias de imprensa têm trabalhado na divulgação de pautas para os clientes que nada têm a ver com o rebuliço lá em Brasília? Para entender como é ter a rotina ‘prejudicada’ por um fato extraordinário, antes vale uma pequena (minha) história.
O dia era 13 de agosto de 2014. Pela manhã. No computador, acompanhava o noticiário nacional e internacional quando os portais de internet davam a notícia de que um avião de pequeno porte havia caído na região de Santos/SP. A princípio, a informação causou espanto pelo acidente, o que fez com que começasse a especular sobre as causas com os colegas da agência de comunicação que trabalhava à época.
Os repórteres seguiam à toda velocidade na cobertura do acidente, mas as informações eram desencontradas. Por fim, mais no período da tarde, houve a confirmação: no avião estava o candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PPS), até então o terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto.
O assunto, é claro, dominou as conversas. Do porteiro ao presidente da República, não havia ninguém que não falasse. Foi então que a tragédia atingiu em cheio o meu trabalho. Como assessor de imprensa, fiquei rendido ante a magnitude do acontecimento. À época, estava assessorando um evento que pretendia discutir o futuro do saneamento básico no Brasil e que teria cerimônia de abertura no mesmo dia da tragédia. O plano de comunicação estava a todo vapor: pautas, convites, follow-up, tudo tin-tin por tin-tin. Mesmo o auge da crise hídrica em São Paulo não foi páreo para a morte de um postulante ao Planalto.
Os trabalhos do evento, propriamente, começaram dia seguinte. Na quinta-feira, estava com uma “pauta vendida” (no jargão de assessoria, quando certo veículo de imprensa aceita o tema proposto para reportagem) com um grande jornal de televisão, que aproveitaria o encontro para complementar uma série de reportagens sobre ‘água’ a ser exibida na semana seguinte. Mas não deu outra! A “pauta caiu” (outro gíria de AI e jornalismo que quer dizer que o tema foi deixado de lado) e, por isso, não consegui levar os jornalistas da TV ao evento e concluir o meu trabalho neste dia. Pior, nos dias seguintes também.
Isso porque a cobertura da morte de Eduardo Campos, mais a nomeação de Marina Silva como a nova candidata durou, pelo que lembro, de duas a três semanas. Tempo suficiente para ‘barrar’ na imprensa qualquer estratégia de comunicação àqueles que não tinham clientes ou fontes relacionadas ao macro tema da época.
Agora, se um evento extraordinário de três semanas causou tanto estrago no organograma de uma assessoria de imprensa, que dirá uma crise que vem desde a eleição da presidente Dilma Rousseff em outubro passado! No Facebook, o grupo DR entre assessores e jornalistas “levantou a bola” sobre como a crise política tem afetado o trabalho dos assessores.
A opinião de quase todos os colegas que participaram é unânime, atestando os reflexos que o cenário em Brasília tem nos seus planos de comunicação e nas suas divulgações. Entre as principais reclamações, a que mais se destacou foi a de que muitas pautas têm caído por conta do pouco espaço que ‘sobra’ nos jornais, revistas, rádios ou TVs, e da migração de jornalistas de outras editorias para cobrir a crise política.
Todas as reclamações são sérias, impulsionadas por um mercado como o de jornalismo, onde vários e vários veículos de imprensa – e, claro, potenciais targets para as assessorias – encerram as suas atividades, ampliando a crise na imprensa que há anos configura-se num caminho tortuoso e, possivelmente, sem volta. Mas, então, o que fazer? Infelizmente, para momentos como este não há um manual ou poção mágica para navegar em águas mais tranquilas. O meu conselho é somente um: criatividade.
Sempre que nos deparamos com crises e períodos de baixa, temos a possibilidade de criar e, às vezes, até ousar para buscarmos os melhores resultados. Por isso, amplie as suas possibilidades, ofereça novas propostas, caminhos e temas. Saia da mesmice e, por favor, deixe de lado o ‘sempre deu certo assim’. Hoje, quem não se reinventa, não prospera, não valoriza o próprio esforço e a dedicação.
Um dos grandes desafios para os assessores de imprensa, também, é convencer os clientes de que em momentos como os que estamos vivendo os resultados podem não ser os mesmos de antes. E, evidentemente, não serão. Porém, torço pela capacidade de cada um explorar caminhos e possibilidades. Pense para frente que a crise uma hora acaba e o que vai ficar é a experiência adquirida e os novos rumos que conquistamos. Vamos todos à luta, porque se a pauta é boa, a divulgação acontece. E viva o follow up!
MARCOS Vargas Assessor de imprensa na LB Comunica rockeiro e palmeirense, fã de livros biográficos e sobre política |