Se o velho ditado diz que ‘o apressado come cru’, no mundo do jornalismo, então, podemos dizer que o ‘apressado’ escreve errado ou totalmente sem sentido. No atual momento das redações, não raro, nos deparamos com frases e/ou palavras incompreensíveis no que diz respeito à forma e/ou à norma em língua portuguesa. Infelizmente, não estamos apenas falando das letras faltantes ou da grafia incorreta.
Aparentemente engraçados à primeira vista, os erros dos jornalistas contêm, em muitos dos casos, uma triste realidade por trás deles. Seja a pressão de um mercado cada vez mais enxuto e que leva o profissional a trabalhar por horas, ou a altiva necessidade de ser o primeiro a publicar determinada notícia e sair à frente da concorrência, ou uma revisão própria desleixada, ou um editor preguiçoso. Os fatos se confundem entre si e se fundem no limiar do deadline.
Para citar um exemplo, relativamente recente, outro dia aqui na redação da agência estava lendo a notícia sobre um manobrista que fora esfaqueado e morto no bairro de Moema, em São Paulo, após briga com um flanelinha. A reportagem de poucas linhas, muito comum no jornalismo online, estava hospedada em um dos mais conceituados portais de notícias da imprensa paulistana.
Ao ler, me deparei com a seguinte frase: “A vítima, de 51 anos, foi golpeada três vezes com uma faca. O resgate foi acionado, mas teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu”.
Confesso que na primeira leitura não entendi todo o significado, por isso tive que reler a pequena sentença uma boa dose de vezes. A cada releitura, a citação soava estranha em minha cabeça. Foi aí que o insight veio como um raio: “peraí, pelo que dá a entender quem sofreu a parada cardiorrespiratória foi o ‘resgate’ e não a ‘vítima’”. Era mais um caso, como tantos outros, no qual a pressa foi inimiga da redação.
Escrever em meio às pressões cotidianas tornou-se um ato corriqueiro e mecânico para muitos dos jornalistas, e talvez por isso hoje os erros sejam cada vez mais evidentes. Ainda mais em tempos de redes sociais e seus paladinos (mas aí é outra história!). O certo é que todos nós estamos sujeitos a deslizes. Sendo assim, o ideal é que seja feita a revisão com o máximo de cautela e, se possível, pedir para outra pessoa revisar. Às vezes, pequenos erros passam despercebidos porque nossos olhos e mente se acostumaram à construção do texto. Pense nisso!
Mas não desanime! Escrever é algo sublime, que nos conecta ao mundo e leva nosso pensamento e ideias além das fronteiras. Para quem não escreve, o meu conselho: comece. Pode ser para o mundo ou para você. O importante é não guardar as ideias dentro de si. E o mais incrível é que a escrita é amplamente democrática, tem para todos os gostos: conto, poesia, prosa, crônica, história, romance, ficção, drama, haikai, quadrinhos. À escolha do freguês.
Mais do que na escrita, a pressa, a pressão e o estresse são inimigos de tudo aquilo que fazemos hoje, seja no trabalho ou na vida pessoal. Por isso, se possível e como dica, tenha um tempo para se desplugar do mundo. Escrever pode ser um caminho. Como diria o grande Almir Sater, na música Tocando em Frente: “ando devagar porque já tive pressa”.
Take it easy, my friend!
MARCOS Vargas Assessor de imprensa na LB Comunica rockeiro e palmeirense, fã de livros biográficos e sobre política |