7.07.2016

Nada a declarar?


Se existe alguma coisa no mundo da comunicação e da assessoria de imprensa que ainda me causa bastante estranheza é quando leio ou ouço a clássica frase “procurada por nossa reportagem a empresa ‘X’ preferiu não se manifestar”. Sabe por quê? Porque não consigo entender como, em pleno século XXI, na chamada era da informação, algumas empresas preferem optar por não se posicionar diante das crises e questionamentos de jornalistas e sociedade.

Mais do que ‘esconder’ determinada informação, o ‘preferiu não se manifestar’, hoje, pode ser uma grande armadilha comunicacional, uma vez que pode muito bem ser confundida com uma assinatura de culpa. Não acredita? Pergunte às redes sociais e analise o comportamento da imagem e da marca da empresa que não se posiciona perante a necessidade de esclarecimentos. Normalmente, enxurradas de comentários nas páginas do Facebook, Instagram e redes sociais correlatas são postadas, ampliando ainda mais a crise de imagem.

No atual mundo da comunicação, no meu entendimento, não existe mais espaço para o ‘nada a declarar’, já que os ganhos com esta estratégia são praticamente zero. Se antigamente ele dava alento às empresas e era, de certa forma, bem aceito, hoje configura uma tomada de decisão que fará com que a assessoria de imprensa e, consequentemente, o departamento de comunicação (publicidade, social media, imprensa, etc.), em muitos dos casos, revejam ou até mesmo mudem todo o plano de comunicação.

Pense que o ‘nada a declarar’ é como remar contra a corrente, de onde, independentemente do esforço, não sairemos do lugar e, pior, seremos puxados cada vez mais para trás.

Há que se ter em mente que o poder da resposta está com o cliente, e não necessariamente esta tem que ser a que o jornalista e/ou a sociedade almejam, a princípio. Buscar soluções que satisfaçam a empresa alvo dos questionamentos, sem que estas firam a imagem e, também, a aceitação do jornalista responsável pela matéria, é a difícil solução nesta equação. Leva-se em conta, também, que a solução é dificultada exponencialmente uma vez que, normalmente, os prazos para a elucidação das dúvidas dos repórteres são sempre exíguos.

Por isso, é necessário que a equipe de assessoria de imprensa esteja afinada e na mesma sintonia com o cliente e, portanto, ciente de todos os pormenores que envolvam determinada denúncia ou investigação. A transparência entre os agentes da linha de frente evitará os sobressaltos e sustos e será fator primordial para as tomadas de decisão e a padronização do discurso para eventuais entrevistas ou mesmo comunicados à imprensa.

Uma das frases mais clássicas sobre comunicação se encaixa perfeitamente às reflexões acima: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. Não necessariamente a assessoria de imprensa fará publicidade, na acepção da palavra, mas resgatará ou manterá a boa imagem que a empresa tem no mercado. (PS: diferentemente do publicado em diversos sites, a frase em questão é do jornalista americano Willam Randolph Hearst, e não do escritor Oscar Wilde).

MARCOS Vargas
Assessor de imprensa na LB Comunica
rockeiro e palmeirense, fã de livros biográficos e sobre política

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