2.18.2016

Wendell Lira e a fixação brasileira pela internet

O que faz do brasileiro um povo apaixonado pela internet? Muitos diriam a vasta quantidade de conteúdo, a forma rápida de se comunicar e/ou a facilidade de conhecer pessoas e culturas. Assim como na rede mundial de computadores, as possibilidades de entendimento são ilimitadas. Para este jornalista que vos escreve, há outro motivo que pode explicar tamanha paixão: as mais inventivas maneiras de trollar o mundo com apenas um clique, mensagem ou meme. Isso mesmo!

É fato que quando se trata da equação internet + brasileiros + humor alguns fatos se tornam clássicos. O mais recente deles, na minha opinião, aconteceu no começo deste ano na eleição de gol mais bonito da temporada no futebol mundial. Wendell Lira, jogador do modesto Goianésia, de Goiás, foi condecorado com o Prêmio Puskas pelo tento anotado diante do Atlético-GO, em partida válida pelo campeonato goiano.

 Emocionado ao receber o prêmio das mãos do ex-jogador Nakata, em cerimônia realizada na Suíça no último dia 11 de janeiro, Wendell agradeceu os votos que recebera de forma popular (e via internet). E foi justamente a internet o divisor de águas na escolha. Para vencer, o brasileiro teve a ‘ajuda’ de diversos sites de humor – entre eles o Não Salvo – que convocaram o exército cibernético brasileiro para votar em massa, criando assim uma verdadeira campanha de votação.
A mobilização deu resultado e Wendell Lira recebeu impressionantes 1,6 milhão de votos, ou quase 47% do total, o que o fez vencer o argentino Lionel Messi (eleito pela quinta vez o melhor do mundo na mesma cerimônia) e o italiano Alessandro Florenzi. O gol merecia estar entre os finalistas? Para mim, SIM, merecia. Foi o gol mais bonito? Tenho as minhas dúvidas. Fato é que a história foi escrita online e o brasileiro entrou para a seleta lista junto a craques como Neymar, Cristiano Ronaldo e Zlatan Ibrahimóvic.

Outra trollada brasileira que se tornou viral instantâneo no mundo todo aconteceu com o fundador do Facebook. Em dezembro de 2014, Mark Zuckerberg recebeu uma enxurrada de comentários, memes e stickers enviados por usuários daqui. Nem mesmo o post do casamento do empresário escapou às trolladas brasileiras. Não deu outra! Revoltado com a quantidade de mensagens, Zuck pediu que a rede social bloqueasse a área de coments. Mas a zoeira já estava feita e a fama dos brasileiros também.

Porém, nem sempre as nossas trolladas são vistas com bons olhos. Que o digam os fãs de jogos online, como League of Legends e Counter Strike. Uma rápida busca na internet sobre o tema e você encontrará diversos artigos abordando a má conduta dos jogadores do Brasil. Entre os exemplos deste comportamento estão ‘matar’ os próprios companheiros de time em jogos de ação que envolvem equipes ou escrever impropérios nos chats, o que atrapalha a comunicação dos demais players.




Mais do que atrapalhar o jogo, o comportamento desses jogadores tem provocado a ira dos estrangeiros. Não raro, players brasileiros que levam o jogo a sério relatam mensagens de ódio contra eles, em verdadeiros casos de xenofobia e racismo. Basta, para alguns, ver que o servidor está conectado no País para que os ataques virtuais comecem. A estratégia diante dessas mensagens é se defender com o meme Thas Raciss (Isso é Racismo).
 
Recentes pesquisas mostram que, atualmente, o brasileiro que possui conexão em casa fica mais tempo na web do que na televisão ou outro meio de comunicação. Mas é certo que a internet no Brasil ainda está muito aquém do que poderia estar. O estudo TIC Domicílios 2014, do Centro de Estudos sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação (Cetic.br), divulgado em setembro de 2015, mostrou que apenas 50% dos domicílios possuem acesso à internet. Num universo de 200 milhões de pessoas ávidas por informação e entretenimento, temos muitos caminhos a percorrer até colocar a população na rede.

MARCOS Vargas
Assessor de imprensa na LB Comunica
rockeiro e palmeirense, fã de livros biográficos e sobre política



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