9.12.2014

Papel higiênico, sabão em pó – maquiagem de produtos, de novo?



Meu caro, minha cara, acho que vocês devem se lembrar do termo maquiagem de produtos, como ficou conhecida a prática de reduzir quantidades tradicionais colocadas em itens dos mais diversos setores, do alimentício ao de higiene pessoal.

Lá pelos idos de 2008 esse assunto foi bastante discutido e a embalagem era algo importante em todo o processo: a diminuição do conteúdo normalmente era acompanhada de uma reformulação no pacote, deixando-o mais bonito, sofisticado, totalmente diferente para atrair o consumidor. Em geral, o que ficava faltando, além de parte do produto que não estava mais lá, claro, era a informação em destaque sobre a mudança. Ou seja, até que isso fosse descoberto, noticiado, punido, muita gente comprou nove e pagou dez, gastou sem perceber que estava levando menos para casa.

Qual não foi a minha surpresa ao me deparar, há poucos dias, com rolos de papel higiênico de 20 metros (pelo que me lembro, eles tiveram 40 metros por toda a minha vida e estranhei muito quando reduziram para os 30 metros comercializados hoje) e com caixas de sabão em pó de 900 gramas, estas com preço exatamente igual, até nos centavos, da principal concorrente, de um quilo?

Sabe que eu quase comprei o papel? Estava tão bonito, em uma embalagem com detalhes em preto, acho que com um toque de prateado, com uma folhinha a mais (folha tripla!), mas só com 20 metros. Mas me senti enganada, como havia me sentido quando isso começou.

Já conheço quem deixou de comprar certos potes de sorvete por esse motivo. Não desistiu de comprar o mesmo sabor, mas vai direto ao produto do concorrente. Biscoitos e molhos de tomate também estiveram entre os vilões daquela época. Quem comprava um pacote de 200 gramas de bolacha passou a ter de se contentar com 160 ou 170 gramas. Ou comprar dois.

Às vezes, a gente sente como se tivesse de “matar um leão por dia”, de ter que brigar por tudo para ter os direitos minimamente respeitados. Cada um deve formar sua opinião e decidir o que vale e o que não vale a pena adquirir, ninguém precisa concordar com o que os outros pensam sobre o assunto. Mas uma coisa é certa: devemos estar de olhos abertos para a comunicação, em todos os setores, em todos os lugares. Ler, com bastante atenção, as mensagens que são colocadas a sua frente.

Para lembrar: Minha amiga Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Fundação Proteste, escreveu um post esclarecedor sobre o assunto no Blog da Folha, em 19 de novembro de 2013, e reproduzo trecho aqui: “Sempre que reduz a quantidade vendida de um produto, a empresa tem de informar com destaque, por três meses, a redução do peso ou volume na própria embalagem, conforme prevê o Artigo 31 do Código de Defesa, e a portaria 81 do Ministério da Justiça. Do contrário, pode nos induzir ao erro, pois imaginamos estar comprando a quantidade de sempre do produto, quando na realidade estamos levando menos para casa e, grande parte das vezes, pagando o mesmo valor de antes”.

Já a revista do Procon-SP de março e abril de 2008 colocou o assunto na capa. Leia trecho da matéria: “Desde a estabilidade econômica, com a introdução do Plano Real, alguns fornecedores parecem ter encontrado a solução para seus problemas. Ao invés de aumentar os preços – um dos primeiros passos para afugentar o consumidor –, optaram em diminuir a quantidade do produto. Para a operação não gerar desgaste na ponta final, davam um verdadeiro banho de loja na nova embalagem. A prática, que prejudica a concorrência econômica e o consumidor, foi apelidada de ‘maquiagem de produtos’.”

ADRIANA Gordon
Coordenadora de redação da LB Comunica,
advogada e mãe em tempo integral

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