Os oponentes sobem ao ringue para mais uma noite de desafios
no Debatendo Comunicação! Do lado esquerdo e pesando alguns bons litros de
cerveja, Marcelo Rodrigues, assistente de Criação e lunático por HQ’s. Do lado
direito e pesando alguns bons quilos de suplemento, Paulo Matos Jr, coordenador
de Criação e rato de academia!
E o tema de hoje, polêmico como sempre, é: “O que é correto:
logotipo ou logomarca?”. Leia, curta, comente, compartilhe suas opiniões. Que
comece o desafio!
Marcelo Rodrigues
Igual à quantidade absurda de sobrinhos de alguém que vocês
conhecem, em um belo e adolescente dia eu conheci um software chamado Corel
Draw. Pouco depois desse encontro mágico, um professor do colégio, também
proprietário de uma papelaria, me disse que precisava de uma logomarca para seu
negócio. Em dado momento do processo, fui perguntar para um amigo, que
trabalhava com design, se o que eu estava fazendo estava correto. Ele me disse:
"Ah, está muito legal, mas isso aqui é um logotipo, e não uma logomarca.".
É claro que eu perguntei qual era a diferença entre logotipo e logomarca e a
explicação foi bem didática:
Mas tem logomarca no dicionário! E o significado que o pai
dos burros nos dá é exatamente o significado que aparece quando faço uma
logomarca ou logotipo para um cliente. Com base em tudo isso cheguei à
conclusão de que logomarca é como os leigos chamam. Aquilo que pegou, aquilo
que tá na boca do povo. Enquanto logotipo é como os profissionais chamam.
Pronto! A questão estava esclarecida até eu ouvir argumentos de designers
profissionais defendendo o uso do termo logomarca. Sim, eles existem!
No design brasileiro há diversos profissionais vindos de
outras áreas, como propaganda e arquitetura, por exemplo. Além da popularidade
de sites que dão a oportunidade de qualquer pessoa que saiba mexer em um
software adequado ganhar um dinheirinho brincando de designer. Tudo isso
reforça a disseminação de ruídos dentro e fora da profissão. Mas eu nunca vi um
designer se deparar com um pedido de logomarca e não saber do que se trata, não
saber o que seu cliente quer dizer com isso. Se não há uma convenção proibindo
o uso e se não há nenhuma dificuldade em interpretar seu significado, como isso
pode ser taxado de errado?
Há um livro chamado "Logotipo versus logomarca: a luta
do século", que expõe argumentos de grandes nomes do design brasileiro
acerca dessa questão. André Stolarski, Bruno Porto, Guilherme Sebastiany, Luiz
Marcelo Mendes e Newton Cesar batem um papo com o leitor apresentando seus
pontos de vista. Esse livro me ajudou a perceber uma coisa: apesar de o termo
logomarca ter fixado, estar na mente de leigos e de alguns profissionais, isso
nunca impediu um bom designer de realizar um grande trabalho, muito pelo
contrário, temos profissionais incríveis no nosso país, profissionais que criam
logotipos premiados enquanto clientes solicitam logomarcas. Portanto, pode
chamar de logomarca, nós sabemos o que isso quer dizer e, no final das contas,
é o resultado que importa.
Paulo Matos Jr
Essa realmente é uma discussão que já acontece há um bom
tempo. Para alguns, a resposta para isso é algo muito clara, para outros ainda
uma incógnita. Quando ingressei na área, para mim não fazia a menor diferença,
eu até preferia dizer logomarca a logotipo, sem explicação, talvez achasse a
palavra mais bonita, e isso deve acontecer com muita gente.
A definição do termo ficou fixa na minha cabeça quando
estava fazendo meu TGI (Trabalho de Graduação Interdisciplinar, o famoso TCC),
nos últimos dias de aula da minha graduação. Tinha dúvida e decidi perguntar
para minha orientadora qual era correto: logotipo ou logomarca. Ela defendeu a
seguinte explicação: “logotipo é o correto, junção de símbolo mais tipografia,
e, em caso de apenas tipografia, ela é o símbolo. Se você preferir, apenas
logo. Marca é algo mais complexo, envolve essência, política,
posicionamento...”. E finalizou: “um designer nunca deve usar ‘logomarca’,
entendeu? Se não entendeu, eu explico quantas vezes for preciso, mas você não
pode sair daqui com esta dúvida” — Isso foi suficiente para eu passar a defender
a mesma opinião. Mas, para que o motivo do meu argumento não seja simplesmente
a influência da opinião de apenas um profissional da área, aí vai uma defesa
palpável:
Do grego, “logos = significado” + “typos = figura”, logo:
Significado da figura
Do grego, “logos = significado” + do germânico “marka = significado”, logo: Oi?
Do grego, “logos = significado” + do germânico “marka = significado”, logo: Oi?
Ou seja, considerando essas origens, a formação da palavra
logomarca parece realmente não fazer sentido, por ser redundante. Okay que nem
todo pleonasmo é incorreto, mas também não é agradável de ouvir.
Daí você pode me dizer: “Ah, mas logomarca está no
dicionário”. Ok, mas assim como uma pessoa em sã consciência da coerência não
vai dizer “mortandela” (embora todos entendam), eu não vou dizer “logomarca”.
Existem defesas e estudos que argumentam a origem de “marca” vinda de outros
idiomas, daí teríamos outra realidade.
E como li, é só no Brasil que este termo existe. O restante
do mundo utiliza variações de logo, logotipo ou marca, mas nunca logomarca.
Logotipo é a palavra mais antiga, então logomarca é um neologismo.
Diversas disciplinas discorrem sobre o assunto. O ponto é
que trata-se também de uma questão de respeito, se a galera da área diz que não
é correto dizer logomarca, por que eu que não sou da área vou insistir? Dá no
mesmo que chegar para um juiz e discutir com ele os termos que ele usa.
Por fim, na minha opinião, se uma pessoa que é da área usar
o termo logomarca, com certeza eu vou olhar torto e, para mim, vai perder
alguns pontos. Se a pessoa não é, eu vou relevar, pois ela não tem obrigação de
saber, embora me doa muito quando escuto a pessoa dizer “me envia a sua
logo...” Ahhhhhhhhh! rs. O que eu posso dizer é que quando se usa o termo
logomarca pode gerar essa discussão, então não custa trocar por logotipo ou
simplesmente dizer logo.