5.23.2017

Quem sai em defesa? O mau uso da palavra







Em tempos de WhattsApp, de domínio das redes sociais em geral, de política invadindo os papos de fim de semana, de crise, desemprego, insatisfação com o cenário geral, é comum ouvirmos as mais ferrenhas críticas sobre tudo e sobre todos, em todos os canais e veículos.

Criticar é um direito — abusar desse direito, no entanto, pode levar a uma condenação judicial. Em tempos de internet, sabemos que a situação fica fora de controle quando qualquer ação que configure crime contra a honra (calúnia, injúria, difamação) ou bullying se utiliza de  meios que amplifiquem sua divulgação.

Foi isso que ocorreu recentemente, com uma apresentadora de televisão, condenada pela Justiça a pagar R$ 30 mil de indenização por danos morais a um ministro do Supremo Tribunal Federal. A imprensa noticiou que a decisão considerou difamatório o post da apresentadora, com muitos seguidores nas redes sociais, com a foto do ministro e a palavra “cúmplice”, que ela utilizou para contestar um habeas corpus concedido por ele a um condenado.

Mas e quando usamos a mesma postura nas relações pessoais? Como passamos da conversa jogada fora, da velha “conversa de botequim”, para sair atirando para todos os lados, expondo publicamente pessoas, sem nenhum embasamento sério? E com que facilidade saímos da “reclamação generalizada”, baseada na crise real que o País atravessa, em que lemos sobre um escândalo após o outro e maldizemos nossos políticos, para aplicar a mesma fórmula em nosso cotidiano?

Sem qualquer cuidado, sem o menor conhecimento sobre o que se passa em cada um dos lados, todos nós emitimos nossos julgamentos e encaçapamos a bola da vez. Somos todos juízes em processos sem audiências e sem tentativas de conciliação.

Acusar virou prática do dia-a-dia, verbo banalizado para usar a qualquer momento, sem travas, sem pensar. Não importa o ambiente: empresa, escola, clube. Qualquer lugar é propício, qualquer hora é boa.

Quem sai em defesa de uma professora que é atacada por pais porque seus filhos não conseguem tirar notas boas na disciplina? Fazem os deveres de casa, praticam com a lista de exercícios propostas, estudam para a prova? O que importa? Não, não fazem nada, mas a culpa é da professora que é brava e não explica.

Quem se levanta no meio das pequenas multidões dos grupos de WhatsApp para falar que não concorda com a opinião manifestada — e endossada por outros — contra uma pessoa menos popular, por qualquer motivo?

Quem se solidariza com uma mãe que reclama de bullying na escola? E quem fica indignado ao ouvir a mesma mãe acusar uma outra criança publicamente de ser a autora dos atos condenáveis, no mesmo grupo de WhatsApp?

Quem defende uma amiga diante de um grupo ou mesmo perante uma única pessoa que ataca?

Quem sai da roda ou se manifesta a favor de alguma coisa, no auge da saraivada de flechas?

Quem se atreve a ter uma opinião diferente em defesa de alguma pessoa?

Quem condena de forma privada e elogia de forma pública?

Será a era dos promotores e o fim dos advogados de defesa? Como usar a palavra?


Pense nisso.

ADRIANA Gordon
Coordenadora de redação da LB Comunica,
advogada e mãe em tempo integral

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