Em tempos de WhattsApp, de domínio das redes sociais em
geral, de política invadindo os papos de fim de semana, de crise, desemprego,
insatisfação com o cenário geral, é comum ouvirmos as mais ferrenhas críticas
sobre tudo e sobre todos, em todos os canais e veículos.
Criticar é um direito — abusar desse direito, no entanto,
pode levar a uma condenação judicial. Em tempos de internet, sabemos que a
situação fica fora de controle quando qualquer ação que configure crime contra
a honra (calúnia, injúria, difamação) ou bullying se utiliza de meios que
amplifiquem sua divulgação.
Foi isso que ocorreu recentemente, com uma apresentadora de
televisão, condenada pela Justiça a pagar R$ 30 mil de indenização por danos
morais a um ministro do Supremo Tribunal Federal. A imprensa noticiou que a decisão
considerou difamatório o post da apresentadora, com muitos seguidores nas redes
sociais, com a foto do ministro e a palavra “cúmplice”, que ela utilizou para
contestar um habeas corpus concedido por ele a um condenado.
Mas e quando usamos a mesma postura nas relações pessoais?
Como passamos da conversa jogada fora, da velha “conversa de botequim”, para
sair atirando para todos os lados, expondo publicamente pessoas, sem nenhum
embasamento sério? E com que facilidade saímos da “reclamação generalizada”,
baseada na crise real que o País atravessa, em que lemos sobre um escândalo
após o outro e maldizemos nossos políticos, para aplicar a mesma fórmula em
nosso cotidiano?
Sem qualquer cuidado, sem o menor conhecimento sobre o que
se passa em cada um dos lados, todos nós emitimos nossos julgamentos e
encaçapamos a bola da vez. Somos todos juízes em processos sem audiências e sem
tentativas de conciliação.
Acusar virou prática do dia-a-dia, verbo banalizado para
usar a qualquer momento, sem travas, sem pensar. Não importa o ambiente:
empresa, escola, clube. Qualquer lugar é propício, qualquer hora é boa.
Quem sai em defesa de uma professora que é atacada por pais
porque seus filhos não conseguem tirar notas boas na disciplina? Fazem os
deveres de casa, praticam com a lista de exercícios propostas, estudam para a
prova? O que importa? Não, não fazem nada, mas a culpa é da professora que é
brava e não explica.
Quem se levanta no meio das pequenas multidões dos grupos de
WhatsApp para falar que não concorda com a opinião manifestada — e endossada
por outros — contra uma pessoa menos popular, por qualquer motivo?
Quem se solidariza com uma mãe que reclama de bullying na
escola? E quem fica indignado ao ouvir a mesma mãe acusar uma outra criança
publicamente de ser a autora dos atos condenáveis, no mesmo grupo de WhatsApp?
Quem defende uma amiga diante de um grupo ou mesmo perante
uma única pessoa que ataca?
Quem sai da roda ou se manifesta a favor de alguma coisa, no
auge da saraivada de flechas?
Quem se atreve a ter uma opinião diferente em defesa de
alguma pessoa?
Quem condena de forma privada e elogia de forma pública?
Será a era dos promotores e o fim dos advogados de defesa?
Como usar a palavra?