A cena se repete TODOS os dias pela manhã: toca o despertador, ajeito-me na cama, coloco os meus óculos e alcanço o celular no criado-mudo, em um movimento que beira ao slow-motion. Primeiro app clicado: Facebook. O que era para ser uma diversão ou doses de pequenas informações antes da labuta, tornou-se um vício miserável que fora amplificado retumbantemente nestes tempos de ‘Fla-Flu’ político. Nem bem abro os meus olhos e já sou bombardeado virtualmente com diversas opiniões, links, likes, shares, agradecimentos e xingamentos de amigos, amigos de amigos e desconhecidos.
O que será que eu fiz para merecer estar nesta seara virtual, nesta guerra de exércitos empunhando os seus teclados atrás das telas dos computadores como armas prontas para descarregar a artilharia pesada? Olha só, caro leitor, não vou ficar aqui lembrando de tudo, mas confesso, categoricamente, que sim!, eu fiz muito por merecer! Como dizia Raul Seixas, na música Eu Também Vou Reclamar: “é que se agora pra fazer sucesso (...) todo mundo tem que reclamar”. Do mesmo jeito que sou bombardeado, bombardeio. E aqui cabe mais um segredo: eu adoro isso!
Cada post gera uma réplica, que gera uma tréplica, que gera outra ‘quadréplica’ e por aí vai, seja lá quantas ‘éplicas’ o conhecimento (ou não) do determinado tema permitir. Deve ser por isso que, hoje, parece que somos verdadeiros ‘especialistas em assuntos aleatórios’. De política à física quântica, passando por esporte ou economia, todo follower tem algo a dizer (teclar). Do político corrupto ao pênalti mal marcado, cada uma das discussões nas redes sociais vira um épico e hérculeo combate virtual.
E como são diversificados os personagens que encontramos na social media. Destaco alguns tipos específicos: tem aquele que opina por opinar, o que compartilha um post de uma personalidade que admira, o que busca links em portais sérios para dar embasamento à discussão ou o que se deixa levar por fontes nada confiáveis e é desmascarado e ridicularizado. Por experiência, e por ter vestido, pelo menos uma vez, a ‘carapuça’ desses personagens, digo que todos são extremamente perigosos.
“Mas, afinal de contas, o que você quer com essas suas discussões no Facebook: doutrinar as pessoas e dominar o mundo?” Pode se perguntar o incrédulo leitor. Sinceramente, não sei responder à pergunta por completo. O que sei é que não quero só pessoas que tenham o mesmo pensamento que o meu na minha roda de amigos, real ou virtual. Já imaginou que chatice sentar ou teclar para conversar com quem só concorda com você? A divergência saudável de ideias faz a gente crescer ou mesmo ampliar a nossa visão de mundo, quer concordemos ou não com determinado posicionamento.
Se as “redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”, como bem escreveu o escritor e filósofo italiano Umberto Eco (1932-2016), talvez eu seja um desses imbecis. Agora, se vou permanecer esse imbecil é algo que só o meu próximo post no Facebook pode responder. Gostou? Mereço um like ou dislike?
MARCOS Vargas Assessor de imprensa na LB Comunica rockeiro e palmeirense, fã de livros biográficos e sobre política |