10.08.2014

Emoticonfobia, doença dos tempos modernos

Acorda apressado, trânsito, trabalho, leva e busca filho, curso, come quando dá tempo, mais trabalho, supermercado, dá um jeito em casa... Não temos tempo para nada. Tudo o que nos resta é correr para lá e para cá. É isso?

É isso que explica o uso indiscriminado dos emoticons e dos “kkkkk”, “rsrsrsrs” e outras esquisitices do gênero no mundo das abreviações, que não existiam há poucos anos? Se não temos tempo para nada, como conseguimos mandar dezenas de mensagens por dia e receber outras tantas? Como nos preocupamos em checar o celular a cada minuto em busca de novidades? Se você consegue ficar imune a isso e usa seu tempo com mais sabedoria, parabéns.


Fiquei pensando em como será que podemos fazer alguém ler algo até o fim nos dias de hoje? Teremos de adequar nossos textos e poesias?
















Confesso que sou algoz e vítima: não gosto, mas acabo cedendo a duas ou três abreviações nas minhas mensagens ― só que, todos os dias, sou atacada por centenas de letrinhas soltas, carinhas sorrindo e símbolos diversos. Acredito que estou sofrendo de emoticonfobia. Não dá aquela satisfação de ler alguma coisa e imaginar, como fazíamos com os personagens e cenários de um bom livro, lembra? Às vezes, não vem nem uma palavrinha, só aquela mensagem colorida. Radicalismo não é legal em nenhum segmento, então voto sempre pela busca de um certo equilíbrio.

Contribuição da minha colega de redação, Adriana Pinheiro: acesse e confira o uso e abuso dos emoticons em um clipe da música “Roar”, da cantora Katy Perry.



Passar emoção? Fico com a palavra, bem escolhida, bem colocada. O mesmo vale para a imagem: uma bela foto, a ilustração certa. E por que não ter o melhor dos dois?

A propósito, leia a poesia original, “Retrato”, de Cecilia Meireles:



“Eu não tinha este rosto de hoje, 

assim calmo, assim triste, assim magro, 

nem estes olhos tão vazios, 

nem o lábio amargo.



Eu não tinha estas mãos sem força, 

tão paradas e frias e mortas; 

eu não tinha este coração 

que nem se mostra. 



Eu não dei por esta mudança, 

tão simples, tão certa, tão fácil: 

- Em que espelho ficou perdida 

a minha face?”

ADRIANA Gordon
Coordenadora de redação da LB Comunica,
advogada e mãe em tempo integral

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